quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A [mis]Er[i]a do Imediatismo

Este texto teve como motivador a matéria Camisinhas ao alcance, da revista Carta na Escola. Diga-se de passagem, um projeto maravilhoso, que traz uma abordagem fantástica dos assuntos, não apenas para os profissionais da educação, mas a todos os que apreciam uma boa leitura contextualizada. Ouso prever que o projeto chegue até os lares promovendo reuniões e debates entre pais e filhos, facilitando a comunicação e desenvolvendo a cidadania.
Talvez não seja hipocrisia. Na verdade, a maioria das pessoas têm dificuldades em perceber o ponto chave dos problemas, alcançando uma solução aparente. O fato é que a supressão de uma etapa pode ser crucial no resultado do mesmo, o que pode acarretar danos irreversíveis a curto ou longo prazo.
Não quero parecer moralista, nem tradicional. Mas é bem visível que esta “solução” das máquinas de camisinha nas escolas está, um tanto, equivocada. O que está em questão não é a iniciação sexual dos jovens, a conscientização do uso do preservativo, muito menos o controle de DST’s. Trata-se apenas de uma tentativa - alternativa e arriscada – de resolver um sério problema. Ou seja, o governo quer ser legal.
Existe uma rede de justificativas para demonstrar este equivoco. Sendo assim começarei pelos “menos” visíveis.
Sexualidade é sinônimo de maturidade, e dado que a raça humana é dotada de racionalidade - ou consciência - a maturidade mental deve ser considerada neste momento. A partir do momento que um jovem inicia sua vida sexual ele deve estar consciente das responsabilidades que virão com essa decisão. “Acho ótimo. Vai evitar o constrangimento de precisar ir até uma farmácia para comprar”. Não é preciso muita perícia para perceber que esse jovem, que se constrange em comprar um preservativo, não está seguro com relação a sua sexualidade. Facilitar-lhe o acesso a camisinha irá apenas mascarar essa insegurança.
Apesar da situação da educação pública no Brasil, ainda acredito, que escola é lugar de estudar. Se o empenho dos órgãos competentes em elaborar um sistema de educação fosse metade deste dedicado ao projeto das “máquinas de camisinha”, isso seria um assunto cogitável. A situação das escolas públicas não é boa, apesar das melhorias. Salvo algumas instituições, a situação é penosa. A começar pela infra[des]estrutura, qualidade de alimentação, qualidade de ensino. Muitas escolas sequer possuem bibliotecas ou mesmo laboratórios de informática. E quando possuem, o acesso aos alunos é restrito, quando existe acesso.
Sabendo que o ser humano é bastante atraído por tudo aquilo que lhe convém, e que, mesmo para aqueles que apreciam a arte do saber, fazer sexo é muito mais agradável do que estudar - sensorialmente falando -, gerar-se-á então um grande problema. Como é que jovens, hormonalmente embriagados, conseguiram assistir aula num ambiente nada atrativo, quando a única barreira que os “impedem” de praticar sexo é rompida? E note que esta barreira é um aspecto psicológico, uma fase do desenvolvimento humano. Cada individuo deve transpô-la sozinho, a seu modo e tempo.
Não se trata de ser contra ou a favor dessas máquinas nas escolas. Esse é só mais um projeto que finge estar preocupado com a situação da juventude, mas não está. O sexo é bom, as descobertas são importantes, mas o principal é preparar o jovem para isso. Mostrar que ele não deve ter vergonha em ter uma vida sexual ativa, mas que deve agir com responsabilidade. Só que isso dá trabalho, e não aparece na estatística.
Não se pode deixar que os gestores da saúde e educação façam vista grossa sobre a juventude, oferecendo medidas imediatistas - e desesperadas - para camuflar a situação caótica a que o jovem é exposto atualmente. O governo não deve intervir, já que não contribui favoravelmente na formação intelectual, em aspectos do desenvolvimento pessoal dos cidadãos. Permissividade desmedida é sinônimo de indiferença ou descontrole.

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