terça-feira, 16 de outubro de 2012

A interdisciplinaridade de um misantropo



A Física desperta em mim coisas maravilhosas. Eu costumo dizer que não somos nós que escolhemos a física, ela é quem o faz. Mas não vim aqui falar de física, e sim de linguística, mais especificamente de fonética. E me perdoem os grandes amigos linguístas pela ousadia, e qualquer extrapolação desse devaneio.
Quem nunca teve a oportunidade de apreciar uma pequena e encantadora tabela conhecida por Alfabeto Fonético Internacional ( Internetional Phonetic Alphabet - IPA), deveria apreciá-lo. O meu affair pela álgebra me faz adorar um conjunto limitado de elementos que "explica" (talvez a palavra adequada seja "expressa")  um universo maior pela diversidade de suas combinações. É isso que, para mim, significa o IPA. É muito desafiador pegar um dicionário de uma língua estrangeira e tentar pronunciar as palavras com a ajuda desse alfabeto fonético. 
Outra coisa que me veio em mente, foi o fato de nós termos a capacidade de aprender a falar a língua nativa  apenas por meio da repetição. Aqueles milhões de a - e - i - o - u que eu cantarolei incessantemente  e copiei nos cadernos de caligrafia até a 4ª série do ensino fundamental, é o que permite aprender sobre física, escrever sobre neurociência, ou tentar falar inglês hoje. Se comparado a tabuada na matemática, o "bê - a bá" é o decoreba mais bem sucedido da história da humanidade.
Bem, toda essa conversa surgiu de uma dúvida na pronúncia da palavra "measurement". Voltarei aos estudos ...Até mais!

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Cerveja, coca, guaraná e água!

Há muito que não escrevo no meu blog e estava esperando uma situação interessante para voltar a ativa. Encontrei-a.

Hoje, 8 de dezembro de 2011, dia de Nossa Senhora da Conceição, fui mais uma vez ao morro da conceição como costumo fazer há muitos anos. Porém dessa vez foi mais marcante que das outras, pois por mais que eu aquele evento não me deixasse completamente a vontade, nunca me incomodou tanto quanto hoje. E afirmo, com precisão, que isso não é uma questão de fé.

O título deste texto pode parece impróprio – eu concordo – mas foi exatamente a primeira frase que ouvi enquanto caminhava em direção ao santuário. Era por volta de 10:45h da manhã, e o calor era digno da profanidade que integrava o lugar. Mais do que demonstrações de fé, pagamentos de promessas e afins, havia primitividade. Pessoa em condições subumanas, crianças seminuas pedindo pelas calçadas, alojadas em meio ao esgoto a céu aberto que descia do alto. Ambulantes, pedintes, representantes, todos esbanjando seus ideais capitalistas. E eu, em meio a tudo isso, não conseguia pensar em outra coisa que não fosse o fim dessa peregrinação.

Ao chegar no alto, mais uma decepção, o cheiro exalado pelo aglomerado de banheiros públicos era insuportável. Pode parecer mentira, mas era muito pior do que esses mesmos sanitários durante o carnaval.

Após essa “provação”, cheguei aos pés da santa – de fato, dessa vez, fiquei um pouco mais distante do que de costume – local mais concorrido do evento. Sinto pela falta concentração, mas não consegui proferir um simples sinal da cruz. Tenho eu pouca fé? Falta-me determinação e objetividade? Talvez.

O que não parei de questionar desde o momento inicial até agora é o que é a fé? Estaria nossa senhora satisfeita com tal quadro pintado em seu nome? Seria necessário tanta precariedade? Aos olhos de quem? Da santa? Dos fiéis? Esse é um mistério irrespondível.

Sinceramente, não sei o que busco na minha religiosidade. Mas hoje nada aflorou meu sentido religioso. A coisa mais digna que consegui pensar em meio aquele emaranhado de pessoas – dentre eles muitos afetados neuropsicologicamente – foi o quanto eu preciso estudar pra quem sabe um dia poder contribuir, ainda que indiretamente, para uma melhor condição da saúde mental das pessoas.

sábado, 12 de março de 2011

Tempo de Quaresma

Passadas as festividades momescas (adorei esta palavra), como bons seguidores do calendário cristão, é iniciado o tempo da quaresma.
A quaresma corresponde aos 40 dias (contados a partir da quarta-feira de cinzas) que antecedem o Domingo de Páscoa, festa da Ressurreição de Cristo.Esse é um período de renovação, onde os cristãos buscam refletir sobre suas ações com o objetivo de ressuscitar em Cristo.
Essa é uma situação muito interessante. Note que a palavra "ressuscitar" significa voltar a vida, reviver. E muitas vezes é necessária a ressurreição. Nesse mundo de tempo transcorrido, não é de todo mal ressuscitar nossos conceitos, ressuscitar nossas opiniões, ressuscitar nossas virtudes, nossos sonhos, nossa vida.
Diante dos cataclismos que o mundo vem acompanhando, refletir e "arrumar a casa" é uma oportunidade e tanto para manter-se resiliente a esse "mundo de meu Deus".


Para inspirar...


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Errado é ser triste

Quando eu era criança,
falava como criança,
pensava como criança,
raciocinava como criança.
Depois que me tornei adulto,
deixei o que era próprio de criança."
1 Corintios 13,11

Desde criança achava interessante as coisas “erradas” (nesse caso as aspas têm muitos significados) que minha avó dizia, e conseqüente toda família falava também. Então tive a idéia de fazer um dicionário da família.

Como esse projeto nunca foi realizado, dedicarei um espaço a toda essa cultura a que somos expostos quando partilhamos um tempo com nossos avós, de conselhos a dialetos. Tenho certeza que alguém vai se identificar.

Iniciarei a seção com a coisa mais bonita que ela já me disse, e que eu só me dei conta quando falei pra outra pessoa.

Ao sairmos de casa, em nossa família, sempre pedimos a benção aos mais velhos. E, diferente dos outros, sempre responde:

“Deus te acompanhe e te faça feliz.”

Essa é a melhor saudação que se pode desejar a alguém.
E muito bom poder ouvi-la dizer isso todos os dia.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A [mis]Er[i]a do Imediatismo

Este texto teve como motivador a matéria Camisinhas ao alcance, da revista Carta na Escola. Diga-se de passagem, um projeto maravilhoso, que traz uma abordagem fantástica dos assuntos, não apenas para os profissionais da educação, mas a todos os que apreciam uma boa leitura contextualizada. Ouso prever que o projeto chegue até os lares promovendo reuniões e debates entre pais e filhos, facilitando a comunicação e desenvolvendo a cidadania.
Talvez não seja hipocrisia. Na verdade, a maioria das pessoas têm dificuldades em perceber o ponto chave dos problemas, alcançando uma solução aparente. O fato é que a supressão de uma etapa pode ser crucial no resultado do mesmo, o que pode acarretar danos irreversíveis a curto ou longo prazo.
Não quero parecer moralista, nem tradicional. Mas é bem visível que esta “solução” das máquinas de camisinha nas escolas está, um tanto, equivocada. O que está em questão não é a iniciação sexual dos jovens, a conscientização do uso do preservativo, muito menos o controle de DST’s. Trata-se apenas de uma tentativa - alternativa e arriscada – de resolver um sério problema. Ou seja, o governo quer ser legal.
Existe uma rede de justificativas para demonstrar este equivoco. Sendo assim começarei pelos “menos” visíveis.
Sexualidade é sinônimo de maturidade, e dado que a raça humana é dotada de racionalidade - ou consciência - a maturidade mental deve ser considerada neste momento. A partir do momento que um jovem inicia sua vida sexual ele deve estar consciente das responsabilidades que virão com essa decisão. “Acho ótimo. Vai evitar o constrangimento de precisar ir até uma farmácia para comprar”. Não é preciso muita perícia para perceber que esse jovem, que se constrange em comprar um preservativo, não está seguro com relação a sua sexualidade. Facilitar-lhe o acesso a camisinha irá apenas mascarar essa insegurança.
Apesar da situação da educação pública no Brasil, ainda acredito, que escola é lugar de estudar. Se o empenho dos órgãos competentes em elaborar um sistema de educação fosse metade deste dedicado ao projeto das “máquinas de camisinha”, isso seria um assunto cogitável. A situação das escolas públicas não é boa, apesar das melhorias. Salvo algumas instituições, a situação é penosa. A começar pela infra[des]estrutura, qualidade de alimentação, qualidade de ensino. Muitas escolas sequer possuem bibliotecas ou mesmo laboratórios de informática. E quando possuem, o acesso aos alunos é restrito, quando existe acesso.
Sabendo que o ser humano é bastante atraído por tudo aquilo que lhe convém, e que, mesmo para aqueles que apreciam a arte do saber, fazer sexo é muito mais agradável do que estudar - sensorialmente falando -, gerar-se-á então um grande problema. Como é que jovens, hormonalmente embriagados, conseguiram assistir aula num ambiente nada atrativo, quando a única barreira que os “impedem” de praticar sexo é rompida? E note que esta barreira é um aspecto psicológico, uma fase do desenvolvimento humano. Cada individuo deve transpô-la sozinho, a seu modo e tempo.
Não se trata de ser contra ou a favor dessas máquinas nas escolas. Esse é só mais um projeto que finge estar preocupado com a situação da juventude, mas não está. O sexo é bom, as descobertas são importantes, mas o principal é preparar o jovem para isso. Mostrar que ele não deve ter vergonha em ter uma vida sexual ativa, mas que deve agir com responsabilidade. Só que isso dá trabalho, e não aparece na estatística.
Não se pode deixar que os gestores da saúde e educação façam vista grossa sobre a juventude, oferecendo medidas imediatistas - e desesperadas - para camuflar a situação caótica a que o jovem é exposto atualmente. O governo não deve intervir, já que não contribui favoravelmente na formação intelectual, em aspectos do desenvolvimento pessoal dos cidadãos. Permissividade desmedida é sinônimo de indiferença ou descontrole.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Ao som dos Trovões

Acordei-me hoje ao som dos trovões.
Adoro este som.
O som da natureza, o som da física,
o som da Terra.
Uma bela manhã chuvosa para pensar,
decantar idéias.
Uma bela manhã para viver um grande amor.




Para Viver Um Grande Amor
Vinicius de Moraes

Para viver um grande amor, preciso é muita concentração e muito siso, muita seriedade e pouco riso — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, mister é ser um homem de uma só mulher; pois ser de muitas, poxa! é de colher... — não tem nenhum valor.

Para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro e ser de sua dama por inteiro — seja lá como for. Há que fazer do corpo uma morada onde clausure-se a mulher amada e postar-se de fora com uma espada — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor, vos digo, é preciso atenção como o "velho amigo", que porque é só vos quer sempre consigo para iludir o grande amor. É preciso muitíssimo cuidado com quem quer que não esteja apaixonado, pois quem não está, está sempre preparado pra chatear o grande amor.

Para viver um amor, na realidade, há que compenetrar-se da verdade de que não existe amor sem fidelidade — para viver um grande amor. Pois quem trai seu amor por vanidade é um desconhecedor da liberdade, dessa imensa, indizível liberdade que traz um só amor.

Para viver um grande amor, il faut além de fiel, ser bem conhecedor de arte culinária e de judô — para viver um grande amor.

Para viver um grande amor perfeito, não basta ser apenas bom sujeito; é preciso também ter muito peito — peito de remador. É preciso olhar sempre a bem-amada como a sua primeira namorada e sua viúva também, amortalhada no seu finado amor.

É muito necessário ter em vista um crédito de rosas no florista — muito mais, muito mais que na modista! — para aprazer ao grande amor. Pois do que o grande amor quer saber mesmo, é de amor, é de amor, de amor a esmo; depois, um tutuzinho com torresmo conta ponto a favor...

Conta ponto saber fazer coisinhas: ovos mexidos, camarões, sopinhas, molhos, strogonoffs — comidinhas para depois do amor. E o que há de melhor que ir pra cozinha e preparar com amor uma galinha com uma rica e gostosa farofinha, para o seu grande amor?

Para viver um grande amor é muito, muito importante viver sempre junto e até ser, se possível, um só defunto — pra não morrer de dor. É preciso um cuidado permanente não só com o corpo mas também com a mente, pois qualquer "baixo" seu, a amada sente — e esfria um pouco o amor. Há que ser bem cortês sem cortesia; doce e conciliador sem covardia; saber ganhar dinheiro com poesia — para viver um grande amor.

É preciso saber tomar uísque (com o mau bebedor nunca se arrisque!) e ser impermeável ao diz-que-diz-que — que não quer nada com o amor.

Mas tudo isso não adianta nada, se nesta selva oscura e desvairada não se souber achar a bem-amada — para viver um grande amor.